Ilha do Ferro - AL em 07 dias
- Natasha Sawaya
- 23 de jun.
- 6 min de leitura
Atualizado: 25 de jun.
07 dias no sertão alagoano vivendo a vida sertaneja, ribeirinha regada a arte popular.

O sertão alagoano tem entrado na rota do turismo muito impulsionado pela valorização da arte popular e seus incríveis artistas que vem ganhando espaço em exposições dentro do universo da arte contemporânea. O lugar onde concentra-se inúmeros artistas e onde o vilarejo vive 100% disso somado a pesca é a Ilha do Ferro - que não é uma ilha, é um pequeno vilarejo de artesãos. Sim, o Ferro vive e respira arte em cada cantinho. Ali, o conceito de comunidade, aquilombamento ainda é muito presente. Mesmo com o boom de muitos artistas locais, eles preservam e mantêm seus pés, valores e crenças bem enraizados aquela terra e resistem.
É um lugar onde prevalece o olho no olho, a presença, as trocas genuínas, a escuta e olhar atento as pessoas, suas histórias, sua arte, sua visão de mundo. Um lugar onde o apego nas presenças e trocas, no agora.
Eu estive em maio de 2025 e passei 07 dias por lá. Fui em baixa temporada, então eu praticamente era a única turista de longa estadia, o que sem dúvidas, tornou essa vivência ainda mais especial.
Se você decidir visitar esse espaço, vá de mente e coração aberto, pise com muito respeito nessa terra e trate muito bem cada pessoa que vive nesse lugar. Parece o óbvio, mas não custa reforçar. O tempo é outro, a vida é outra ali, quando comparado a vida nos grandes centros.
Como chegar

Carro: melhor opção por conta da dificuldade de acesso a ilha, as condições da estrada e a liberdade de circular por locais vizinhos.
Transfer: eu fui nesse esquema, roots total, e foi uma experiência antropológica e também exaustiva. Sai da rodoviária de Maceió com a van do Galego que faz diariamente esse trajeto de Maceió x Pão de Açúcar as 11h. A van custa 70,00 só que ela vai parando em alguns lugares no Centro de Maceió e também na estrada. O Galego é a única pessoa que faz esse trajeto, então meio que todo mundo depende dele. A van vai socada, mesmo! E são quase 4h. Pelos 70,00 valeu demais. A van para em Pão de Açúcar e de lá você precisa ter um outro transporte para chegar na Ilha. Que pode ser moto (se você tiver só com mochila), barco (dias e horários restritos) ou carro. Eu fechei o transporte com o seu Chiquinho e esse trajeto de 40min-1h ficou por 200,00. A estrada é muito ruim, é sertão a dentro e praticamente você não encontra pessoas que fazem esse trajeto.
Na volta, eu descolei um contato do Transfer que sai de Olhos D´Água (15min de Pão de Açúcar) com o Elves e sai 90,00 no carro com mais 3 pessoas. Recomendo demais! Ele faz esse trajeto também todos os dias até Maceió, com exceção de domingo.
Contato Galego (82) 99829-1546
Contato Seu Chiquinho (82) 99340-2874
Contato Elves (82) 99932-2848
Lembrando que você também pode chegar na Ilha via Aracaju - Sergipe. A passagem até e mais barata. Vale pesquisar antes.
Onde se hospedar
A minha escolha foi a casa Cactos que é casa - pousada @casacactopousada. É uma super casa com 6 quartos na beira do Velho Chico, fica bem na rua principal do Centrinho. É uma paz, foi uma super experiência ficar hospedada lá. A casa é super equipada e você pode cozinhar a sua comida, curtir momentos na rede, na sala, na cadeira de balanço, na varanda. Achei um excelente custo x benefício,
A ilha não tem muitas opções de pousada, tem a pousada da Vana, o hostel Tubarana e a Redário.
As outras opções são aluguel das casas - eu super recomendo se tiver com pelo menos 2 pessoas. Ah, se prepare porque todas as casas são belíssimas desde a fachada até a decoração com arte popular de super bom gosto. É uma piração para quem curte decoração. A vontade é você querer morar lá pra sempre ou comprar todas as artes para levar para a sua rs.
Ateliês
Os conhecidos ateliês são em sua maioria a casa dos artistas. Em um primeiro momento você vai estranhar entrar na casa deles, mas vai perceber que é parte da cultura e da experiência. Vá com tempo livre, disposto a conhecer as histórias - é muita aula de vida, cultura e inspiração que você tem a cada troca.
Em poucos minutos ali, você já vira da família, tá tomando café, chá, comendo um bolo, recebendo frutas da horta de alguns deles. Isso aqui é o ponto alto da viagem! As pessoas são muito especiais e te recebem de braços abertos.
Acho legal dar uma olhada geral, tirar foto das peças que mais gostou para escolher com calma. Porque dá vontade de comprar tudo! O único problema é que durante a alta temporada as peças acabam rapidamente. Tem muito trabalho impecável, cada um com sua característica.
Ateliê do Farias
Ateliê do Petrônio (com o plus de conhecer durante a visita a Célia, sua esposa. Imperdível.)
Ateliê Zé Crente
Galeria Dom do Renato Brandão
Ateliê do Dedé Santos
Casa dos artesãos na ilha (visitar todas as casas)
Ateliê do Clemilton (Mata da Onça que inclui as obras da sua família Vanuza - mãe e Ailton - irmão)
Casa do Tuta em Curralinho
Ateliê Boca do Vento, Camile Rodrigues neta do Fernando Rodrigues
Ateliê do Abelardo
Ateliê do Cícero e Salvinho
Ateliê do Vavan
Cooperativa das Bordadeiras com o bordado Boa Noite
Ateliê da Roxinha e Domingos, em Lagoa de Pedra (imperdível)
Museu da Ilha do Ferro: quem administra as visitas é a Vânia, ela mora na casa ao lado e basta ir lá para pedir para abrir.
Passeios aos arredores
Barco para Mata da Onça, Curralinho, Ilha dos Anjos: parada obrigatória.
Lajedo seu Ricardo e Jeuza, uma experiência maravilhosa para um café da manhã ou café da tarde no pôr do sol. Praticamente tudo que eles oferecem é produzido por eles, inclusive o queijo coalho de comer rezando. Eu fui no fim do dia para o por do sol e ainda peguei a lua nascendo, foi bem especial ver o sol no meio do sertão, recomendo muito!
Pão de Açúcar: o dia certo de ir até lá é às segundas feiras quando acontece a famosa feira onde todas as cidades e povoados vão até Pão de Açúcar fazer compras seguido do tradicional forró no Bar do Vaqueiro que começa em torno de 11h e vai até umas 15h, no máximo. Vivência cultural imperdível. Meu único ponto de atenção, se você é viajante mulher sola, o sertão ainda tem traços extremamente explícitos de machismo e assédio. Se você estiver na baixa temporada no forró, como foi o meu caso, não é um lugar confortável para estarmos, eu era a única mulher do bar. Eu só consegui ficar porque chegaram mais 2 casais de turistas que estavam na ilha. Me senti invadida nos olhares e muito desconfortável no forró. Valeu ter ficado, mas acho importante ressaltar e alertar outras mulheres.
Onde comer ou sair a noite

Bar O Macumba: onde os turistas marcam presença a noite. Geralmente rola um forró ou uma programação bacana. O André é o dono e super gente boa de trocar ideia.
Casa da D. Lucia: encomendar ceviche de piranha com macaxeira (de comer rezando), ceviche de banana da terra com manga, sardinha (a melhor da vida) e encomenda de almoço. Você precisa conhecer e comer a comida da D. Lucia!
Encomenda de peixe e camarão fresco para fazer em casa com o Marcelo.
Bar do Bobó, onde você encontra água de coco, além de cerveja, sinuca e quebra queixo.
Café da Ilha: final de tarde para café, lanche, docinho
Recanto do Calango: o caldinho de camarão é de comer rezando. Peguei um forró com brega maravilhoso lá.
Dicas gerais
Tomar banho todos os dias no Velho Chico. Cada banho nesse rio é uma benção e uma limpeza do corpo e da alma. De manhã cedinho é uma delícia ficar por lá.
O sertão é muito quente o dia inteiro e isso torna também os passeios e visitas aos ateliês mais cansativos. A noite a temperatura melhora bem, mas ainda sim é quente.
Beber muita água!
Faça compras antes de ir. Na vila, você encontra um mercadinho bem simples, não vende legumes, frutas, verduras.
Peixe fresco você compra com os pescadores da ilha.
Leve itens básicos de farmácia e primeiros socorros porque não tem farmácia na ilha.
Qualquer necessidade de compra, atendimento de saúde mais sério são 40min - 1h até Pão de Açúcar e ainda sim não é nada tão incrível.
O que eu não consegui fazer
Ateliê do Boró
Ateliê Gledson e Dani - filho Zé Crente
Ateliê Leno - na estrada pro Ferro do lado direito de quem tá indo pro Ferro
Ateliê do Veio
D. Morena Teixeira, casa ao lado do Museu. Ela é um patrimônio vivo da ilha, poetisa e rezadeira, tem 99 anos. Quando eu estive na ilha ela estava internada por problemas de saúde.
Casa da Ilha: galeria e antiques (final da tarde serve tábua de frios,vinho,drinks). Estava fechado quando eu fui porque a dona estava viajando.
Entremontes: bordado labirinto, boa noite e rendede. Infelizmente eu não consegui ir.
Piranhas: também não consegui ir, mas acho que vale passar pelo menos 2 -3 dias por lá durante o fim de semana que tem um agito noturno legal e um restaurante super recomendado. Eu fiz os cânions em uma outra viagem quando estive em Aracaju. E sim, vale muito conhecer! Quero voltar para conhecer Piranhas.
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