Santo André - BA em 6 dias
- Natasha Sawaya
- 1 de jan.
- 12 min de leitura
Atualizado: 7 de jan.
Roteiro para o descanso e a paz no vilarejo de Santo André no sul da Bahia.
Santo André é o lugar perfeito para quem procura por natureza e sossego, sem ter que ir muito longe. Esse vilarejo foi o meu destino escolhido para desligar de tudo e recarregar as energias.
Estive em Santo André em dezembro de 2024, o povoado é distrito de Santa Cruz Cabrália e fica no sul da Bahia, há 1h do aeroporto de Porto Seguro. Coladinha a Santo André, tem o povoado de Santo Antônio e na sequência o povoado de Guaiú. Logo na sequência temos Belmonte tendo como um dos distritos a bela Mogiquiçaba.
Fiquei 8 dias na região e para aproveitar bem, eu recomendo pelo menos 5 - 6 dias. É um lugar para ficar 10 dias tranquilamente, caso você queria apenas descansar, afinal, lá não tem agito. Ou você pode também combinar com uma viagem a Trancoso ou Caraíva.
Essa região é conhecida como a "rota do descobrimento" que deveria ser atualizada para "a rota da invasão", visto que o Brasil já existia e era habitado pelos povos indígenas. Essa região é de resistência dos Pataxós, eles foram a principal etnia que conseguiu resistir as invasões e extermínio de outros povos indígenas, como os Tupinambás.
O melhor período para visitar a região vai depender do que você procura. No ano novo e carnaval já tem um movimento, mas nada comparado a outros lugares na Bahia. Ainda assim, você encontra sossego. O resto do ano é literalmente uma calmaria. Em relação ao clima, de setembro a novembro é mais estável e a alta temporada é de dezembro a fevereiro. Eu passei 8 dias no fim de dezembro e só peguei um dia nublado e com pouca chuva, mesmo assim deu super para aproveitar.
A vila é um charme, fica a beira do rio João de Tiba. No fim de tarde as pessoas se encontram na beira do rio que possui um ar bucólico com os barquinhos de madeira dos pescadores que dão toda uma bossa. A vida passa sem pressa ali porque o tempo é outro. E como é bom estar em estado de presença no agora, desacelerado e desconectado de tecnologia, eu amo! E recomendo :)
Na vila, você encontra 3 mercadinhos, a casa da Vila Criativa - onde são vendidos produtos artesanais dos locais - a cocada de forno é espetacular! Os restaurantes se concentram aqui, além de algumas pousadas, casas e uma ou outra lojinha. Na vila não tem farmácia, a mais próxima fica no povoado de Santo Antônio e com o básico, então leve a sua farmacinha. Também recomendo que leve alguns snacks e/ou itens que você não abre mão de ter porque não vai encontrar por lá.
Não posso deixar de mencionar o espetáculo que é o céu estrelado a noite. Toda noite eu tinha meu momento de contemplação e agradecimento, seja na beira do rio, voltando pela estradinha da vila até a pousada ou na beira da praia. É hipnotizante o céu de lá. Essa região do sul da Bahia no geral é incrível e me fez lembrar muito do céu de Caraíva e Cumuruxatiba.
Importante: nos últimos 3 anos, a região foi "recém descoberta" pelo turismo e está começando a ficar hype no ano novo. Sabemos que isso é o início de um processo de destruição desses lugares a longo prazo. Começa a supervalorização da região, aumento dos preços, construção de casas, empreendimentos que geram desmatamento da região que é uma APA - Área de Preservação Ambiental e com isso os impactos sócio ambientais para a população local. Conversando com os locais tudo isso já é um grande desconforto e preocupação sobre o futuro de Santo André e região. Então, caso viaje por lá, faça um turismo consciente.
Onde se hospedar?
Pousadas: a melhor opção para quem está sozinha, casal ou em família pequena. Mas você também encontra opções de resorts luxuosos e outras pousadas em Santo André, Santo Antônio e Guaiú.
Vila Araticum: eu fiquei nela e gostei bastante. A pousada é pé na areia, bom atendimento, no meio da mata, super silenciosa. A parte ruim é que ela fica há 20min andando até a vila. Caso você esteja sem carro, pode optar por alugar bike na pousada, ir caminhando ou marcar um transfer pra levar - a noite faz diferença por conta do cansaço.
Ponta de Santo André: fica na beira do rio João de Tiba. Você não encontra ela através do booking, apenas falando com o Rogério - dono através do contato pelo instagram/whastapp.
Pousada Oribá: fica também na beira do rio João de Tiba e dentro da vila.
Aluguel de casa:
Estando em um grupo de amigos ou família grande, vale super a pena alugar casa na região. Na beira do rio João de Tiba tem algumas, mas você também encontra outras mais afastadas da vila de Santo André e também nos povoados vizinhos.
Como chegar em Santo André?
Chegando no aeroporto de Porto Seguro, você tem a opção de alugar um carro ou contratar um transfer. Os dois funcionam super bem.
Para chegar na vila, saindo do aeroporto, você leva em torno de 1h - sem trânsito. Passa por Coroa Vermelha e Santa Cruz de Cabrália onde tem a balsa que você precisa atravessar. A balsa funciona todos os dias e a noite também, porém com um intervalo maior. O tempo de travessia na balsa é de 15 minutos e já é um super boas vindas por conta do visual
(fotos abaixo da chegada pela balsa e a entradinha da vila)
Transfer
A minha opção foi contratar um transfer particular para ida e volta. Contratei com o Flavio Guerra (73) 98187-5525 e super recomendo. O valor que eu paguei foi R$390,00. Além do transfer do aeroporto, o Flavio também faz o transfer na região e foi uma das pessoas que eu contratei para me levar para as praias e regiões mais distantes.
Aluguel de carro
É a melhor opção de alugar carro para quem prefere ou está com um grupo/ família.
DIA 1 - PRAIA DE SANTO ANDRÉ & PONTA DE SANTO ANDRÉ
A pousada que eu fiquei hospedada fica na praia. Todas as pousadas que ficam na praia oferecem estrutura de barraca e cadeira para os hóspedes, o que é ótimo, pois o sol é de rachar e nem todos os pedaços da areia tem sombra dos coqueiros.
A praia de Santo André é uma praia extensa, a cor do mar mais acinzentada por conta do mangue - isso acontece em toda a região. Porém, na maré baixa, a cor do mar fica um pouco mais clara em alguns trechos. Na maré baixa, a praia fica super gostosa para caminhar. Já na maré alta é um pouco desconfortável, pois a areia fica super desnivelada. Eu peguei as duas opções e realmente achei que andar nela desnivelada é muito ruim.
Você pode caminhar em direção a praia das Tartarugas ou em direção a Ponta de Santo André que é onde o rio João de Tiba se encontra com o mar. Essa foi a minha escolha do dia. Caminhei até a ponta, dá uns 20 minutos e chegando na Ponta existem algumas barracas de praia - geralmente é o lugar "mais cheio" da praia toda. Inclusive, ao longo do dia, você verá escunas que vem de Porto Seguro ou Coroa Vermelha passando ali, algumas param nesse ponto para as pessoas almoçarem. Porém, virando a ponta, seguindo fluxo do rio, tem um cantinho especial é não muito movimentado que é exatamente a parte só do rio João de Tiba. Ali você encontra sombras de amendoeiras, um visual lindo e uma tranquilidade para passar o dia sem pressa, sem hora. E contemplar um por do sol. O sol não se põe no rio nem no mar, mas dá uma paisagem super bonita nesse cantinho. No ponto da balsa é onde dá para ver o por do sol melhor.
Fiz um almojanta no restaurante Biri Biri do chef Thiago Paixão. Fica dentro da pousada Ponta de Santo André e abre apenas na temporada. A minha pedida foi o peixe com purê de banana da terra, farofa, abobrinha e molho de pimenta e biri biri - estava uma delícia.
DIA 2 - PRAIA DE SANTO ANTÔNIO & RIO SANTO ANTÔNIO
Dia de conhecer a praia e o rio Santo Antônio. O dia estava nublado e choveu um pouco - foi meu único dia de tempo fechado. A praia segue estilo selvagem e extensa e essa específica não tem quase coqueiro, é mais uma vegetação mais baixa. Saindo da vila até a praia, dá em torno de 20 minutos de carro. O transfer particular leva e busca por 90,00.
Dá para fazer uma caminhada de Santo Antônio até o Guaiú na maré baixa que leva em torno de 1h30.
Existem duas barracas para você passar o dia, a da Maroca e a da Jane. A da Maroca fica um pouco mais distante do rio e é super bem indicada - ela foi eleita com a melhor moqueca do sul da Bahia. A da Jane fica mais próximo e é mais simples, porém parece que cobra quase o mesmo preço da Maroca com estrutura inferior.
Acabei ficando na Maroca, mas a minha experiência com a comida não foi boa. Os dois pratos que eu tentei pedir não tinham no dia (em plena alta temporada) - carpaccio de polvo e o ravioli com lagosta. Pedi um ceviche de peixe e estava muito ruim! Ai decidi não comer mais nada ali. Só passar o dia e comer na vila quando voltasse. E é importante falar que os preços são bem altos. Um prato individual nessa barraca sai no mínimo 130,00 - 150,00. Os preços no geral das barracas na praia são bem mais caros do que os dos restaurantes na vila. A parte positiva é que nenhuma barraca de praia cobra mínimo de consumo ou aluguel da barraca e cadeira.
Falando sobre a experiência na praia e rio (foto) , essa sim foi perfeita! Da barraca até o rio dá uns 08 minutos de caminhada e o rio é lindo. Eu dei sorte porque a praia estava quase deserta e o rio de fato não tinha ninguém. Que paz, que delícia de lugar! Fiquei mais de 1 hora ali no rio relaxando e curtindo. Eu gosto muito de água doce, então sempre que eu estou em região de praia com rio, raramente eu fico no mar. É uma calmaria que dá, uma paz. Eu realmente acredito que a água do rio cura, limpa.
A minha escolha do almojanta foi no restaurante João de Tiba e o meu prato foi um risoto de moqueca de banana da terra com peixe grelhado que estava dos deuses (foto) - é o carro chefe deles. De sobremesa optei por um brownie com sorvete tapioca que estava gostoso.
DIA 3 - PRAIA DO GUAIÚ & RIO GUAIÚ
Dia de conhecer a famosa praia e rio Guaiú e a a barraca da Maria Nilza.
Saindo da vila, você leva em torno de 30 minutos de carro. O transfer particular cobra de 90,00 a 100,00.
A praia é linda, seguindo o mesmo padrão da região, só que com mais coqueiros que Santo Antônio. O rio Guaiú é muito lindo!!! A cor da água é de coca cola, você consegue atravessar dependendo do nível do rio e ficar num banquinho de areia mais no meio. Sério, esse rio é surreal! De um lado rio e do outro mar. Passei o dia quase todo lá. Nesse dia, o rio "estava cheio" - para os padrões que eu estava acostumada, era Natal, e a comunidade local e dos povoados próximos estavam curtindo o feriado, além de alguns turistas como eu.
A barraca da Maria Nilza é a mais famosa e mais cara. Tem a barraca do Elias que também falam bem e é mais barata. Eu optei pela da Maria Nilza porque queria experimentar o famoso arroz de polvo dela que consagrou o lugar. Eu amo polvo e não queria perder essa experiência. Pedi a opção para 01 pessoa que poderia servir para 02 pessoas pedindo uma entrada antes. O arroz de polvo estava impecável. Valeu demais a ida. O atendimento é excelente e na saída você ganha um saquinho com cocada branca e de cacau que é de comer rezando.
Importante dizer que a barraca não é mais da Maria Nilza, ela foi comprada por um grupo, mas a Maria Nilza ainda trabalha nela. Fiquei meio triste quando soube disso porque sem dúvida vai descaracterizando as origens e cultura locais.
O dia estava lindo, céu azul e eu fui conhecer o mirante do Santo Antônio na volta do Guaiú. Foi construída uma capelinha e um Santo Antônio gigante. O mirante tem um visual lindo para a praia e rio do povoado e o pôr do sol. Vale a subida para contemplar a imensidão de verde, mar e rio.
DIA 4 - PONTA DE SANTO ANDRÉ & RIO JOÃO DE TIBA
Tirei o dia para não ter programação e ficar ali pela vila. Caminhar pelas ruas, ir descobrindo os espaços e fazer uma boa massagem de alinhamento de chackras, eu adoro essas vivências.
A tarde eu passei toda na Ponta de Santo André curtindo o rio e relaxando embaixo das amendoeiras. Como é bom ficar nesse cantinho! E o dia estava muito lindo, céu super azul, solzão.
Aproveitei para almoçar no restaurante Biri Biri que é literalmente na beira do rio. A minha pedida foi atum selado com purê de inhame que estava delicioso!
A noite eu fui conhecer a Gastro Villa que é point na temporada. Tem um cardápio bem diverso - japonês, pizza, acarajé, hamburguer e tudo parece gostoso. Eu comi carpaccio de salmão e estava bom. O espaço é um charme e sempre tem música ao vivo. Estava rolando uma banda super boa.
E depois fui ter uma experiência bem regional no Flor de Tangerina (local onde acontece os eventos noturnos e vai até mais tarde) com a noite do Lambazuk que é lambada com zuk. Foram alguns professores de Porto Seguro e uma galera local para dançar. Foi demais! Eu amei a experiência e me acabei de dançar.
DIA 5 - PRAIA DA TARTARUGA
Dia de fazer a caminhada na maré baixa da pousada até a praia da Tartaruga que é na outra ponta de Santo André e dá em torno de 25 minutos. A praia tem esse nome, pois é onde acontece a desova das tartarugas. Geralmente acontece entre dezembro e janeiro, porém com as mudanças climáticas tem se alterado.
A caminhada é uma delícia e essa ponta da praia é um paraíso. Mais um cantinho onde o mar se encontra com o rio e mangue. Então nesse trecho da praia tem os arrecifes e tem o manguezal, além da areia meio dourada que fica lá na ponta, bem específico também dessa região. Nessa parte não tem estrutura, então precisa levar uma mochila com água e snacks para passar o dia. Tem algumas sombras de coqueiros e árvores que dão para ficar bem protegida do sol.
Fim do dia, foi de ter uma vivência local dentro da comunidade. O Centro de Convivência Cultural preparou a festa de encerramento com o espetáculo Emoções que envolve as crianças, jovens e professores e foi a coisa mais linda! Montaram um palco com cenografia, figurino no meio da praça e boa parte da comunidade ali celebrando e prestigiando o trabalho realizado ao longo do ano. Foi demais! Me emocionei horrores com as crianças. Eu sempre busco participar de eventos e atividades que envolvam a comunidade local para me integrar e conhecer mais sobre a realidade das pessoas que ocupam e habitam esse espaço. Recomendo sempre interações e vivências com a comunidade local!
Dia de jantar no badalado Sant’ana que é um charme e na alta sempre tem música ao vivo e é um mini fervinho. A minha pedida foi o carro chefe - tagliateli ao molho branco com camarão, raspas de limão siciliano e castanha. Estava maravilhoso e super leve! Achei um dos melhores restaurantes e com preço justo.
DIA 6 - MOGIQUIÇABA & RIO PRETO
Dia de conhecer a famosa Mogiquiçaba que é distrito de Belmonte. Fui de transfer privado e custa 110,00 - 120,00.
Passei o dia no restaurante Xauá que fica no Rio Preto e é uma experiência todo o caminho até chegar lá. A estrada já é linda e você vai passando pelos povoados. Chegando na entrada do rio, você pega um barco que custa 10,00 - ida e volta para te levar por dentro do manguezal até o Xauá que é espetacular tanto na ida quanto na volta com o sol se pondo.
Importante: o acesso ao restaurante pode ser por barco e por estrada. Por estrada não é qualquer carro que passa por conta da areia/ chuvas etc tem que ser 4x4. Além disso, chegar de barco é outra experiência.
Para acessar o restaurante Xauá, você precisa reservar, pois o espaço é pequeno e a proposta não é superlotar para manter o conforto e tranquilidade de quem vai visitar.
O espaço tem uma praia de rio e você pode passar o dia todo por lá. O Gilmar fecha as 17h, podendo estender até as 18h e curtir o por do sol que é lindo demais ali.
Esse lugar é muito especial, a paz que é e a delícia de passar o dia nesse rio. Tem opção de alugar caiaque e stand up também.
Almoçei no restaurante e comi um polvo dos deuses na chapa com legumes (foto).
Acabei não indo até o lado da praia de Mogi. Essa praia tem um mar mais forte e propício para o surf. O rio é tão convidativo que não dá vontade de sair de lá. Vai ficar para uma próxima conhecer a praia.
Esse cantinho é parada obrigatória. E antes de ir, pergunte se tem o polvo porque foi o melhor prato da viagem!
Restaurantes:
Luz de Minas - almoço e jantar
João de Tiba - almoço e jantar (parada obrigatória)
Gastro Vila - jantar
Ancestral Beach (mesmo dono do Gastro Vila, abriu no fim de dezembro)
Sant´anna - jantar (parada obrigatória)
Biri Biri - almoço
Pontinho Beira Rio - opção mais caseira e acessível para almoço
Cantinho da Linda - comida baiana
Aroeira - comida caseira para um almoço mais acessível
Flor de Tangerina - sexta tem o clássico forró, acompanhar a programação
Bistrô Marina - ao lado da chegada da balsa, na alta temporada tem eventos no por do sol
Bambu - almoço dentro da pousada Oribá
Cocada da Lete - cocada mole de cacau é deliciosa! Passar para fazer um lanche da tarde e prosear com a Lete.
Outros lugares para visitar:
Belmonte
Canavieiras com passeio de barco no mangue
Piscinas naturais Araripe
Passeio de barco no por do sol no rio João de Tiba
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